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A Balança Comercial brasileira de pescado em 2024
17/03/2025 Por Abraão Oliveira

O ano passado registrou números recordes com exportações e importações. Com um crescimento em volume de 108% em relação a 2023, o destaque foi a tilápia, que se posicionou como a principal espécie exportada. Já nas importações, chamou atenção o aumento de 48% na entrada de filés congelados.

O mercado de pescado brasileiro encerrou 2024 com números expressivos e grandes movimentações no comércio global. A Balança Comercial do setor registrou avanços tanto nas exportações quanto nas importações. Como consequência, o dispêndio atingiu patamares recordes em relação ao ano anterior. Mas, apesar dos números positivos e mesmo após 5 anos da pandemia, o segmento ainda enfrenta incertezas significativas em meio às turbulências globais. O contexto de mudanças climáticas, disputas geopolíticas e uma economia mundial em constante reavaliação tem resultado em cenários cada vez menos previsíveis. Logo, isso exige que os responsáveis por estabelecer as diretrizes econômicas reavaliem seus dados constantemente, refletindo as dificuldades de um mercado em adaptação no Brasil e no mundo.

No Brasil, por exemplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD/IBGE) mostrou que a população ocupada em novembro de 2024 foi de 103,7 milhões de pessoas, um aumento de 2,9% em comparação com o mesmo período de 2023. Ao mesmo tempo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revisou suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, estimando um crescimento de 3,5% em 2024 e uma inflação (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA) de 4,4% em 2025. Contudo, o IPEA alerta que “os níveis de incerteza embutidos nas previsões estão elevados.” Já no âmbito climático, 2024 foi marcado por tragédias como as enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em março, afetando 475 dos 497 municípios do Estado. Sendo assim, o setor aquícola gaúcho sofreu perdas significativas, evidenciando a necessidade de estratégias de recuperação e maior resiliência frente a eventos extremos. Por outro lado, no campo político, o retorno do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) em 2023 e a nova composição do governo federal trouxeram desconfianças e expectativas, acompanhadas de movimentos importantes ao longo dos últimos 2 anos. Entre os destaques do ano passado, estão a inclusão do pescado na nova “Cesta Básica”, a regulamentação da Nova Reforma Tributária e a conclusão das negociações do Acordo de Parceria entre Mercosul e União Europeia. Além disso, com foco na expansão internacional e na competitividade do pescado brasileiro no mercado global, o setor foi marcado, em 2024, por iniciativas estratégicas e decisões fundamentais. Entre elas, a parceria público-privada no projeto Brazilian Seafood e a conquista do fim da obrigatoriedade do Certificado Sanitário Internacional (CSI) para a exportação de pescado aos Estados Unidos. Em resumo, todas essas mudanças e movimentações trazem reflexões importantes, como destacou o executivo de uma multinacional estrangeira de pescado que preferiu não se identificar: “Estamos cientes de que não há mais como aumentar a nossa produção global pesqueira. Precisamos aumentar o valor do que produzimos”, afirmou. Essa visão tem se tornado cada vez mais evidente, com os preços de espécies importadas pelo Brasil mostrando aumentos consistentes ao longo do ano, especialmente aquelas oriundas da pesca industrial.

 

Mesmo assim, as exportações brasileiras de pescado atingiram 64,6 mil toneladas em 2024, um aumento de 7,7% em relação a 2023. Em termos de valor, o setor registrou US$ 396 milhões em receitas, marcando um crescimento de 19,6%, impulsionado pela elevação de 11% no preço médio em dólares - esses resultados representam os melhores números dos últimos 15 anos. Neste cenário, as “Tilápias” reafirmaram seu protagonismo como a principal espécie exportada, com 10.823 toneladas enviadas ao mercado externo, crescimento expressivo de 108% em relação ao ano anterior. Outros destaques incluem a “Corvina”, com aumento de 11% no volume exportado, e os “Atuns e Afins”, que embora tenham registrado uma queda de 20,6%, continuam sendo um dos pilares da pauta exportadora. Aqui, cabe ressaltar que os Estados Unidos consolidaram sua posição como o principal destino do pescado brasileiro, absorvendo 46,9% do volume total exportado e respondendo por 56,5% da receita gerada pelo setor. Outros mercados de destaque incluem a China e Hong Kong que juntos, tiveram uma participação expressiva no desempenho das exportações.

Já as importações brasileiras de pescado totalizaram 291,6 mil toneladas em 2024, um crescimento de 8% em relação ao ano anterior. Embora os volumes permaneçam historicamente baixos, o valor gasto atingiu um recorde de US$ 1,571 bilhão, impulsionado por uma elevação de 42% no preço médio das importações desde 2019. Neste contexto, os principais itens importados foram “Salmões e Trutas”, que somaram 120,8 mil toneladas e US$ 911,2 milhões em gastos, seguidos por “Pangas e Bacalhaus”. No entanto, o Chile manteve sua posição de liderança como maior fornecedor, respondendo por 58,8% do valor total importado pelo Brasil. Essa combinação de volumes moderados e aumento significativo nos custos é resultado de uma nova configuração de preços em diversos segmentos no mercado global, especialmente após a pandemia. Para contextualizar, o preço médio das importações brasileiras de pescado em 2019 era de US$ 3.797/tonelada, enquanto, em 2024, esse valor saltou para US$ 5.388/tonelada — uma alta de 42% em apenas 5 anos.

A importância dos Estados Unidos para as exportações brasileiras de pescado continua a crescer. Em 2023, o mercado norte-americano representava 40,4% das exportações totais. Já em 2024, com um volume de 30.290 toneladas (alta de 24,9%), os EUA passaram a responder por 46,9% do total exportado pelo Brasil. Enquanto isso, mercados como China e Costa do Marfim apresentaram queda nos volumes importados, com retrações de 4,3% e 8%, respectivamente.

Em termos de valor, a participação norte-americana é ainda mais expressiva. Dos US$ 396 milhões gerados pelas exportações brasileiras de pescado em 2024, US$ 223,6 milhões vieram das transações com os Estados Unidos, representando um aumento de 31,7%. Já a China ocupa o segundo lugar no ranking, com US$ 41 milhões (alta de 22%), seguida por Hong Kong e Taiwan, que geraram US$ 22 milhões (alta de 32%) e US$ 15,5 milhões (queda de 3,8%), respectivam.

Mesmo com uma queda significativa de 22% no volume exportado, Santa Catarina segue como o principal Estado exportador do Brasil, com 11.683 toneladas em 2024. O Ceará (alta de 10,7%), e o Rio Grande do Sul (crescimento de 17,4%) completam o Top 3.

Já em termos de receitas geradas, as posições dos Estados e os valores mudam completamente. O Ceará é o principal exportador com US$ 112,7 milhões, seguidos por Pará, com U$ 70,8 milhões e São Paulo, que saltou de U$ 14,2 milhões para U$ 39,7 milhões. Ainda na casa dos US$ 30 milhões em faturamento com exportação, temos Santa Catarina com U$ 39,5 milhões e Paraná com U$ 35 milhões.

Houve mudanças significativas no ranking das espécies mais exportadas pelo Brasil. Desconsiderando o grupo diversificado classificado como “Outras espécies” (que representa mais da metade dos volumes), a “Tilápia” se destacou com um crescimento de 108% em volume, assumindo a liderança em 2024. Enquanto que os “Atuns e Afins” em 2023 foram os principais itens exportados, em 2024, o grupo perdeu a terceira posição para a “Corvina”.

O desempenho financeiro das espécies reflete diferenças expressivas nos valores médios praticados. A Cauda de Lagosta, por exemplo, fechou o ano com um preço médio de US$ 36,93/kg (alta de 3,3%), enquanto o Pargo Congelado atingiu US$ 9,83/kg (crescimento de 19%). Assim, com US$ 90,8 milhões em receitas (alta de 19,5%), a “Lagosta” foi a espécie que gerou as maiores receitas com exportação em 2024, seguida pela “Tilápia” (US$ 53,4 milhões), “Atuns e afins” (US$ 50 milhões) e “Pargos” (US$ 38,3 milhões.

Cerca de 78% das importações brasileiras de pescado provêm de apenas quatro países: Chile, Vietnã, China e Argentina. O Chile lidera com 123 mil toneladas, sendo responsável por 4 em cada 10 kg de peixe importados pelo Brasil, registrando ainda um aumento de 5,8% no volume em 2024. Outros países também apresentaram avanços significativos: Vietnã (53,8% e alcançando 50,5 mil toneladas); China (crescimento de 99%, totalizando 27,5 mil toneladas) e Argentina (alta de 30%, com 26,4 mil toneladas importadas).

Em termos de valor, o peso do Chile é ainda mais relevante. De cada US$ 10 gastos com pescado importado, quase US$ 6 foram destinados ao país, totalizando US$ 923,5 milhões (alta de 9%). O Vietnã aparece em segundo lugar com US$ 136,6 milhões (alta de 38,6%), seguido pela Noruega, que ocupou a terceira posição com US$ 112 milhões (queda de 0,5%). Portugal, Argentina e China, todas com volumes da ordem de US$ 95 a US$ 99 milhões, ocupam as demais posições de destaque, embora com variações bem diferentes quando comparadas com os dispêndios de 2023.

Dentre os Estados importadores, tanto pela importância do mercado consumidor quando pela posição estratégica dos importadores e os benefícios fiscais dos Estados, São Paulo e Santa Catarina permanecem como responsáveis por quase 2/3 de todo o volume importado. São Paulo aumentou sua importância, comprando 133,9 mil toneladas (alta de 14,7%), enquanto Santa Catarina diminuiu em 9,6% o volume importado, fechando em 2024 com 76,5 mil toneladas oriundas do mercado externo.

Em valor, o “Salmão” também representa o maior dispêndio realizado: foram US$ 911,2 milhões, um aumento de 8,6% em relação às despesas do ano de 2023. Já os produtos de “Bacalhaus” representaram 14,8% do total dos dispêndios, com U$ 214,7 milhões, redução de 0,4%. No ano, US$ 136,6 milhões foram gastos com a compra de filés de “Panga” do Vietnã (alta de 40%), mas com as “Merluzas” o aumento do dispêndio foi de 16,7%, fechando o período com US$ 81,8 milhões gastos pelo Brasil.

O “Salmão” é a principal espécie importada pelo Brasil, somando 120,8 mil toneladas no ano passado, um aumento de 5% em relação a 2023. Dentre as demais espécies, o “Panga”, segundo maior espécie importada, teve um aumento de 55% e volume de 50,3 mil toneladas. Por fim, os “Bacalhaus” foram o terceiro item mais importado com 27,3 mil toneladas (alta de 4,7%) e as “Merluzas” aparecem na sequência com 23,2 mil toneladas importadas (alta de 22,6%).