Maximizar a produtividade na criação de camarões começa com uma nutrição adequada desde os estágios iniciais.
O uso de rações iniciais de alta performance, combinadas com boas práticas de manejo alimentar, garante melhor crescimento, maior taxa de sobrevivência e otimização dos resultados zootécnicos.
Este artigo traz informações importantes que todo produtor precisa saber, antes de escolher as rações, e sugere estratégias eficazes para potencializar a eficiência do cultivo.
A fase de criação dos animais jovens é crucial para a obtenção de bons resultados ao final do cultivo. Isso se aplica a qualquer espécie animal e não é diferente para os camarões. É na idade jovem que são formados os tecidos e estruturas responsáveis pelo bom desenvolvimento do animal até a fase adulta.
Na produção de camarões, porém, alguns produtores subestimam essa etapa, chegando a não fornecer ração, o que pode comprometer o desempenho dos animais se o alimento natural não for abundante e de qualidade. O sucesso do cultivo está diretamente ligado a boas condições ambientais, à escolha de uma ração de alta qualidade – com hidroestabilidade, atratividade, balanceamento nutricional e digestibilidade –, além da adoção de boas práticas de manejo na alimentação.
Como escolher uma boa ração?
Primeiramente, é essencial compreender o hábito alimentar dos camarões. No caso do Penaeus vannamei, o processo de localização, apreensão e ingestão do alimento ocorre em várias etapas, envolvendo seus sentidos e estruturas anatômicas específicas.
A busca pelo alimento inicia-se com a detecção de compostos químicos, como aminoácidos e ácidos nucleicos, por meio dos quimiorreceptores presentes nas antenas e antênulas. Por isso, rações iniciais de qualidade devem conter ingredientes que garantam alta atratividade, como farinha de lula, farinha de peixe, hidrolisados de peixes e solúveis de pescado.
Após a localização, o camarão apreende o alimento, utilizando os pereiópodes. Nessa etapa, o tamanho da ração e sua hidroestabilidade são fundamentais. A ração deve ter entre 0,5 e 1,5 mm, dependendo do tamanho do camarão, e manter sua integridade por pelo menos duas horas na água. As características físicas da ração dependem diretamente da moagem dos ingredientes, do processo de peletização e da classificação das partículas no caso das rações desintegradas.
Um bom manejo evita a lixiviação de nutrientes, o desperdício de ração e a deterioração da qualidade da água.
Após a apreensão, o alimento é levado à boca, onde estruturas como mandíbulas, maxílulas e maxilípedes realizam a trituração antes da ingestão. No estômago, o alimento é moído novamente e então digerido pelas enzimas do hepatopâncreas.
A partir dessa fase, o equilíbrio nutricional, a composição da ração, sua digestibilidade e o uso adequado de aditivos tornam-se essenciais para o bom desempenho dos camarões.
Nutrientes essenciais para um bom desempenho
As rações iniciais precisam ter um balanceamento nutricional preciso, com proteína de alta qualidade e elevada digestibilidade.
O teor mínimo de proteína deve ser de 40%, mas, mais importante do que isso são os níveis de aminoácidos essenciais – especialmente metionina, lisina e treonina –, fundamentais para a formação dos tecidos. As fontes proteicas devem ser selecionadas criteriosamente para garantir um bom aproveitamento e, consequentemente, um crescimento eficiente e maior taxa de sobrevivência. É recomendável que o alimento seja composto predominantemente de farinha de peixe, seja ela de origem de resíduos de peixes de água doce ou marinho.
Os lipídios também desempenham um papel crucial, fornecendo energia para o crescimento, apoio no equilíbrio osmótico e na defesa dos camarões. A ração deve conter pelo menos 7,5% de extrato etéreo, sendo o óleo de peixe a fonte mais indicada. A inclusão de emulsificantes, como a lecitina de soja, melhora a absorção de lipídios e a eficiência nutricional da ração.
Além disso, minerais como cálcio, fósforo e magnésio garantem uma carapaça resistente e um metabolismo eficiente, prevenindo deformidades e dificuldades na muda. As vitaminas também são indispensáveis, pois participam de diversos processos metabólicos e fortalecem o sistema imunológico dos camarões, especialmente em situações de estresse.
A importância dos aditivos e do manejo alimentar
O uso de aditivos na ração é essencial para reforçar o sistema imunológico rudimentar dos camarões e melhorar sua fisiologia. Prebióticos, probióticos, nucleotídeos, ácidos orgânicos e vitamina C em níveis elevados (mínimo de 1.000 ppm) ajudam a reduzir a carga de patógenos, promovem uma microbiota intestinal saudável e aumentam a absorção e metabolização dos nutrientes.
Manejo alimentar
Além da qualidade da ração, o manejo alimentar influencia diretamente os resultados. O primeiro passo é monitorar as condições da água. A salinidade e a temperatura são fatores críticos para o desenvolvimento dos animais na fase jovem. Mudanças bruscas na salinidade exigem um alto gasto energético dos camarões para manter o equilíbrio osmótico, afetando seu crescimento e a eficiência alimentar.
Outros parâmetros, como oxigênio dissolvido, alcalinidade e concentração de substâncias tóxicas na água, devem ser avaliados para definir a melhor estratégia de arraçoamento.
Monitoramento e ajustes na alimentação
O programa nutricional para a primeira fase inicial e juvenil consiste em:
Uma boa orientação técnica é fundamental para alcançar bons resultados. No povoamento direto, recomenda-se realizar uma biometria aos 20 dias após o início do cultivo, considerando que normalmente são recebidas pós-larvas (PL) entre os estágios 10 e 15. Nesse período, os camarões devem atingir cerca de 2 g de peso.
O monitoramento do consumo pode ser feito pela avaliação do trato digestório dos camarões. Rações desintegradas, utilizadas na primeira fase, apresentam hidroestabilidade menor (30 a 40 minutos) em comparação às rações peletizadas (mínimo de 2 horas). Assim, a introdução da ração micropeletizada com diâmetro de 1,5 mm deve ocorrer o quanto antes, permitindo um aumento no fornecimento de ração sem comprometer a qualidade da água.
Na fase inicial, o aumento da frequência alimentar é recomendado, sempre que houver disponibilidade de mão de obra. O ideal é distribuir a ração de forma homogênea a cada duas horas.
No cultivo direto, o povoamento deve ser realizado em uma área menor dentro do viveiro para otimizar o fornecimento de ração. O cercado pode ser calculado considerando uma densidade de 1 PL para cada 2 litros de água – por exemplo, 1000 PL exigiriam um cercado de aproximadamente 1,15 x 1,15 m em um viveiro com 1,5 m de profundidade. Uma vez alcançado o peso de 2 g/camarão, o cercado deve ser retirado para que seja ocupada toda a área do viveiro.
No sistema de berçário, onde os camarões são povoados em um tamanho maior (PL 18 a PL 20), a introdução da ração peletizada deve ocorrer por volta de 15 dias, quando os animais atingem entre 1,8 e 2 g.
Abordagem equilibrada é o segredo
A quantidade de ração fornecida deve considerar a área do viveiro, a densidade de povoamento e o tamanho dos camarões. Distribuir estrategicamente a ração, ajustando as quantidades conforme o crescimento, evita desperdícios e preserva a qualidade da água.
Monitorar parâmetros como oxigênio dissolvido, temperatura e pH é essencial para criar um ambiente ideal para o desenvolvimento dos camarões.
O sucesso na criação de camarões depende de uma abordagem equilibrada, combinando nutrição de alta qualidade, manejo alimentar eficiente e monitoramento rigoroso dos parâmetros ambientais. O uso de rações iniciais de alta performance é um dos pilares fundamentais para garantir o crescimento saudável dos animais, aumentando as taxas de sobrevivência e otimizando o desempenho zootécnico.