• Telefone: +55 16 3934-1055 / +55 16 3615 0055
  • E-mail: ferraz02@ferrazmaquinas.com.br
08/08/2025 Por Ana Paula Oeda Rodrigues, Thaís Castelo Branco Chaves, Thiago Fontolan Tardivo, Valéria Maria de Melo Lima

O tambaqui (Colossoma macropomum) é a espécie de peixe nativa de maior importância para a piscicultura nacional. Possui enorme potencial para a piscicultura familiar e para o desenvolvimento econômico da região Amazônica. A ausência de tecnologias de produção adequadas, em especial rações e protocolos de alimentação específicos para sua criação, é um dos principais entraves para a expansão dessa cadeia, refletindo na atual redução de sua produção.

A adoção de práticas de alimentação corretas é fundamental para otimizar o consumo e a eficiência de utilização do alimento, impactando na eficiência produtiva e ambiental da atividade. A definição de um protocolo de alimentação adequado deve considerar a espécie e a fase de desenvolvimento do peixe (RODRIGUES et al., 2024). A quantidade de ração e a frequência com que é ofertada influenciam não somente o consumo e a eficiência de utilização do alimento, como a homogeneidade do lote (WU et al., 2015; MUNTAZIANA et al., 2017). De forma similar, a granulometria da ração também impacta o crescimento animal, uma vez que determina a capacidade do peixe de capturar e ingerir a ração. Esses parâmetros são importantes para que se tenha maior eficiência de uso do insumo que mais impacta nos custos operacionais totais da produção aquícola.

No âmbito do projeto “Validação e transferência de tecnologias para o aumento da eficiência alimentar e produtiva do tambaqui e seus híbridos no estado do Tocantins”, a Embrapa tem acompanhado produtores familiares de peixes redondos para caracterizar o modelo de produção praticado no estado e, com isso, melhor direcionar a validação e transferência de tecnologias na área de nutrição e alimentação. O uso de rações com granulometrias adequadas para a fase de desenvolvimento do peixe é uma das limitações tecnológicas verificadas, sendo comum observar o emprego de péletes grandes, acima do tamanho adequado, em fases iniciais, bem como o contrário. Nesse contexto, a Embrapa estabeleceu uma parceria com o governo do estado do Tocantins, por meio da Secretaria de Pesca e Aquicultura, com o objetivo de gerar informações técnicas que contribuam para o aprimoramento do manejo nutricional em campo, beneficiando técnicos, gestores e piscicultores e promovendo melhores resultados na produção de pescado.

Fotos: Ana Paula O. Rodrigues

Granulometria da ração e sua importância  

O tamanho ideal do pélete de ração varia com o tamanho da abertura bucal do peixe e, consequentemente, com sua fase de desenvolvimento, devendo ser ajustado ao longo do ciclo produtivo. De forma geral, a granulometria da ração deve ser entre 20 a 26% da abertura da boca (MATILLA; KOSKELA, 2018). Péletes muito grandes, em relação ao tamanho da boca do peixe, podem dificultar ou impedir o consumo da ração, bem como ocasionar redução no crescimento e maior heterogeneidade de tamanho entre os peixes (ZAKĘŚ et al., 2013; MATILLA; KOSKELA, 2018). Péletes muito pequenos, por sua vez, demoram mais tempo para ser consumidos e tendem a se espalhar mais rapidamente na superfície da água do viveiro, gerando sobras próximo às bordas do tanque e redução na ingestão do alimento. 

Estimativa do tamanho do pélete de ração para o tambaqui 

Neste trabalho foram amostrados 894 exemplares de tambaqui de 1 g até 1.900 g. Os peixes foram individualmente pesados e medidos quanto ao comprimento total e diâmetros horizontal e vertical da boca. Para o cálculo da abertura da boca foi considerada a média dos diâmetros mensurados. O valor de 25% da abertura da boca foi utilizado para estimar a granulometria da ração mais adequada para cada faixa de peso do peixe.

Na Tabela 1 é apresentada uma estimativa do tamanho do pélete de ração para diferentes faixas de peso e comprimento total do tambaqui. Por exemplo, em peixes entre 21 e 60 g, a abertura da boca é de aproximadamente 1,2 cm. Considerando que a estimativa do tamanho ideal do pélete de ração corresponde a 25% da abertura da boca, nessa faixa de peso a ração deve ter 3 mm. Com base nos tamanhos de péletes comercializados pelas indústrias de ração, a granulometria disponível no mercado que atende a essa estimativa seria uma ração para peixes onívoros de 3 a 4 mm. 

Tabela 1 – Estimativa do tamanho ideal do pélete de ração para o tambaqui em diferentes faixas de tamanho, considerando 25% da medida da abertura da boca (n = 894 peixes)

Nas Figuras 1A e 1B, observa-se o aumento da abertura da boca e do comprimento total em função do crescimento em peso do tambaqui. O tamanho da boca tende a estagnar após o peixe alcançar aproximadamente 1.000 g, ao contrário do comprimento total, que acompanha o crescimento do peixe, ainda que de forma mais desacelerada, até cerca de 2.000 g (tamanho máximo avaliado neste trabalho). Essa observação coincide com a maior granulometria disponível em rações comerciais para peixes onívoros, 8 a 10 mm, que é o tamanho ideal da ração para tambaquis entre 700 e 2.000 g (Tabela 1). 

Figura 1 – (A) Relação entre peso e abertura da boca do tambaqui; (B) Relação entre peso e comprimento total do tambaqui

Granulometria da ração recomendada em tabelas comerciais

As granulometrias estimadas da Tabela 1 foram comparadas com as recomendações feitas por três fabricantes de ração para peixes redondos. Conforme apresentado na Tabela 2, as recomendações dos fabricantes A e C ficaram abaixo das granulometrias estimadas para o tambaqui em quase todas as fases de sua criação. Na fase de engorda, acima de 400 g, porém, parte das recomendações coincidiram com os valores estimados. O mesmo foi observado para o fabricante B até 60 g, demonstrando maior divergência entre as tabelas comerciais e a Tabela 1 na fase inicial de crescimento do tambaqui. Nessa fase, os peixes apresentam alta exigência nutricional e velocidade de crescimento e, consequentemente, rações de qualidade e granulometria adequada beneficiam significativamente as fases subsequentes do ciclo produtivo. 

Tabela 2 – Comparação entre as granulometrias estimadas para o tambaqui e as recomendadas por três fabricantes de ração para peixes redondos

Considerações finais

Esse tipo de informação é fundamental para orientar os piscicultores no momento da escolha da ração, não somente pelo teor de proteína bruta, mas também pelo tamanho do pélete a ser utilizado no manejo alimentar. Dessa forma, busca-se melhor eficiência zootécnica na utilização dos insumos de produção, melhores índices de conversão alimentar e menores custos de produção, fazendo com que o produtor seja mais competitivo na produção de tambaqui.